sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Meia noite e um

Galerinha... Por favor, se possível, leiam o original com 6 contos de Suspense / Terror MEIA NOITE E UM, é de graça, está no Wattpad, e ajuda muito... obrigado... Meia Noite e Um


domingo, 7 de maio de 2017

A Grande Aposta: Uma Explicação.




A Grande Aposta foi provavelmente o melhor filme que eu vi ano passado. Eu achei o enredo do filme uma coisa extraordinária. Tudo que é real é extraordinário, afinal a arte imita a vida, mesmo que nos dias atuais o cotidiano tende a fazer o contrário, de qualquer jeito o crash de 2008 foi um tema fantástico para o filme. O longa fala disso, do colapso do mercado de títulos hipotecários americanos e dos títulos subprime, que você, se já assistiu o filme, deve ter ouvido muito.

Imagino que muitas pessoas não gostaram do filme, mas o que me chateia às vezes é alguém dizer que “não gosta” de alguma coisa simplesmente porque não entende. Um exemplo disso é minha esposa. Quem me conhece sabe que meu longa favorito é “O Senhor dos Anéis”, eu já assisti os três filmes pelo menos treze vezes cada um (sim, eu gosto mesmo) e eu sempre insistia para minha esposa assistir comigo na época em que namorávamos. A resposta dela era sempre a mesma: Eu não gosto de Senhor dos Anéis. Droga! Como alguém pode não gostar de Senhor dos Anéis? De qualquer forma, ao analisar o fato mais intimamente, percebi que minha esposa (na época, namorada) não entendia o filme. “Não gostar” é a desculpa para tudo aquilo que você não entende. Só para deixar claro que hoje ela entendeu o filme, mas acho que continua não gostando... está perdoada. Esse “não gostar” pode eximir você de apreciar uma grande obra, mesmo que uma obra popular (best sellers, blockbusters, etc...) e de aprender com ela. A Grande Aposta é um desses casos. Por isso, se você já assistiu o filme, e “não gostou” vou convidar você a ler essas linhas e depois assistir de novo, você pode se surpreender.

O começo do filme fala sobre a mudança do sistema bancário americano dos anos 70. O que isso significa? Basicamente, o fim da estabilidade monetária. Juros controlados, inflação baixa, moeda lastreada (em ouro), não enriqueciam ninguém, afinal de contas, juros e variações de risco é que transformam ricos em milionários. Coincidentemente, ou não, essa mudança de gerenciamento de títulos proposto por Lewis Ranieri (Logo no começo do filme) foi contemporânea ao total abandono do padrão ouro em 1971. Está ficando complicado de entender? Beleza, vamos dividir esse parágrafo em duas partes distintas para reorganizar o fluxo de ideias.

Primeiro: O que é padrão-ouro? Basicamente é lastrear sua moeda em um valor fixo de ouro, ou seja, se é um minério finito e explorado em quantidades pouco variáveis, logo a produção de papel moeda é baseada na produção do ouro, estipulando valores fixos para a quantidade do minério, isso é lastrear a moeda em ouro. Quais as consequências disso? Basicamente baixa inflação, pois o banco central não poderia imprimir mais ou menos papel moeda tentando (inutilmente) controlar a economia. O padrão-ouro sempre deixará a taxa de inflação controlada. Quais as desvantagens? Para os investidores, esse padrão não permite grandes alavancagens de consumo e investimento, afinal de contas os juros são sempre previsíveis, os empréstimos controlados e o enriquecimento rápido a partir das transações e títulos é quase impossível, afinal, para alguém ganhar, outro tem que perder, e em uma moeda lastreada, é muito mais difícil ganhar e perder muito.

Segundo: O que fez Lewis Ranieri? Esse cara sabe o que é ir do céu ao inferno em quatro anos. Em 2004 foi considerado um dos maiores inovadores dos últimos 75 anos, e em 2008, foi um dos mais criticados pela “bolha da subprime”, ou seja, a grande crise das hipotecas americanas. Mas o que fez afinal de contas? Para resumir bem, ele foi um dos idealizadores das MBSs, que seria algo como “Seguros lastreados em hipotecas”, que são na verdade uma divisão dos empréstimos de hipoteca feitos por compradores de casa ou para investidores comerciais. Como Assim? Bom, suponhamos que alguém fez um empréstimo hipotecário de $200000,00 para serem pagos em trinta anos a uma taxa de 8%, o banco então fratura essa grana em 200 “tranches” de $1000,00 a um valor de 7% ao ano, em outras palavras, você empresta $1000,00 ao banco para receber 7% ao ano por isso, o banco então junta duzentas pessoas iguais a você e reúne os $200000,00 para emprestar a pessoa que quer financiar a casa via hipoteca. O que isso significa? Significa que você está rendendo seu milzinho a 7% e o banco está ganhando 1% em cima de nada, afinal quem emprestou foi você, e o pobre coitado do comprador está perdendo 8% ao ano. Sentiu o drama? Essa ideia de dividir os títulos hipotecários foi do Ranieri, e a partir dessas divisões, ele podia rearranjar os títulos da forma que dessem mais lucros, afinal, as hipotecas variavam, juros maiores para riscos maiores, juros menores para riscos menores, e daí podia-se construir títulos da forma que se pudesse reorganizá-los com o intuito de ganhar mais dinheiro para os bancos sem modificar as hipotecas.

Voltando, o crash nunca pode ser atribuído a uma coisa só. A criação dessas novas formas de negociação, apesar de causadoras, não fazem uma economia inteira desmoronar sozinha. Perceba que nesse momento muita coisa mudou, advento de novas tecnologias, abandono do padrão-ouro, alavancagem através do fundo de reserva fracionária. O que é fundo de reserva fracionária? Bom, basicamente é criar dinheiro da onde não tem. Nada mais é do que uma prática adotada pelos bancos de emprestar ou investir mais dinheiro do que tem em caixa, contando que as pessoas não retirarão seu dinheiro todo mundo de uma vez só. Essa informação é importante para você entender o final do filme, a correria para vender os títulos e sacar o dinheiro. Logo de início do filme, dá para perceber que o Ranieri mudou a maneira dos bancos investidores verem o mercado de títulos. Existem diversos tipos desses MBSs, um deles é o CDO, que são as “Obrigações de Dívidas Colateralizadas”, as quais são amplamente faladas no filme.

Então, o que são afinal de contas esses CDOs? São parcelas e parcelas de hipotecas dos mais diversos, os de alto risco (empréstimos de imigrantes sem trabalho fixo, prostitutas e pessoas com renda instável) misturados com empréstimos sólidos, esse monte de “tranches” misturado vira um título chamado CDO. Os bancos emprestam dinheiro às pessoas que hipotecam suas casas e você empresta dinheiro ao banco comprando esses títulos. Para resumir: Um indivíduo resolve arrumar um empréstimo bancário para compra de um imóvel, dando sua casa como garantia (Hipoteca) e pagando juros por esse empréstimo (similar ao financiamento habitacional da CAIXA). Então esse banco pega esse empréstimo (e mais milhares de outros) e transforma isso em “tranches”, ou seja, divide isso em parcelas, e dessas diversas parcelas formam os “bonds”, nada mais do que títulos de dívida.

O que são esses títulos: São compromissos de dívidas comprados por banco e investidores, o comprador da casa tem uma dívida com o banco, esse banco transforma essa (e diversas outras) dívida em títulos, esses títulos são vendidos a ouros bancos, que são vendidos a outros, e outros e etc... Quem compra? Os “Investidores”, pessoas desavisadas como eu e você que confiamos em instituições de avaliação de investimentos, como a S&P, Moody’s, etc...

Quem sustenta toda essa alavancagem é o pobre coitado que está tentando comprar a casa. Como fazer esses juros aumentarem? Simples, basta financiar empréstimos para qualquer um, mesmo sem avaliar se a pessoa pode comprar, afinal, o objetivo mesmo é a criação dos títulos que podem ser criados em riscos cada vez maiores (juros altos), porém avaliados como investimentos seguros. Está notando alguma semelhança com o sistema brasileiro de financiamento habitacional (Caixa, Minha casa minha vida, etc)?
Só olhando assim, tem tudo pra dar errado certo? Sim. Por que ninguém percebeu? Bom, a complexidade começa ai. A história dos EUA por mais de 70 anos mantinha o mercado imobiliário “estável”, as pessoas pagavam suas hipotecas e faziam cada vez mais dívidas. Por que essas pessoas hipotecavam cada vez mais e mais? Por que os preços das casas estavam subindo, muito. Então eles financiavam uma casa, vendiam o imóvel a um preço bem maior, e então compravam outro, hipotecando a nova casa, fazendo novas dividas, vendendo casas e comprando novas, alugando antigas, fazendo novos empréstimos. Muito parecido com o Brasil, não? Fazer um financiamento e alugar o imóvel para amortecer a prestação.

O problema era que esses juros de hipoteca eram variáveis, pois as pessoas que estavam comprando cada vez mais e mais, nem sempre podiam honrar suas dívidas, e o risco aumentava. Além disso, as empresas de “Rating” avaliavam esses títulos como investimentos seguros, porque eles misturavam bons pagadores com mau pagadores no mesmo “bond” e para alavancar os lucros, cada vez mais “tranches” ruins eram inseridos em títulos considerados ótimos (AAA). Enquanto os preços dos imóveis continuassem a subir, essa pirâmide funcionaria, mas chegaria um momento que isso ia ruir, porque haveria mais casas alugando ou vendendo, do que gente para morar nelas e também, porque os juros aumentariam mais do que a capacidade das pessoas de pagarem (inadimplência). Isso se chama bolha. Para piorar ainda mais o problema, existiam os mercados derivativos, ou a tal das CDOs sintéticas. O que são elas? São títulos paralelos. Eram o título dos títulos. Se o CDO primário era o conjunto de parcelas hipotecárias, o CDO sintético era o conjunto de CDOs. Isso alavancava ainda mais o mercado.

Quem apostava que o mercado ia subir (Operar comprado), ou seja, com o aumento dos preços das casas, comprava mais CDO, apostando que as pessoas comprariam mais casas, fariam mais empréstimos e honrariam suas dívidas. Quem apostava que o mercado ia ruir (Operar vendido), comprava as CDS, que nada mais eram que seguros em casos de inadimplência hipotecária (algo altamente pouco provável aos olhos dos bancos, das instituições financeiras e da população), por isso o “prêmio” das CDSs eram muito maiores.

Para resumir tudo para você entender o filme de uma vez por todas. Existia o mercado de títulos CDOs, lastreados nas hipotecas, e o mercado de títulos segurados contra inadimplência dos pagamentos. Se as pessoas deixassem de pagar suas hipotecas, ou se ocorresse um estouro da bolha imobiliária, os portadores de CDSs ganhavam dinheiro, caso contrário, eles continuariam a pagar os honorários ao banco (igual um seguro de carro que você paga mensal, mas se der PT, você “ganha” o valor do carro, que é muito maior que o seguro). Quem tem CDOs, ganha com o contínuo crescimento dos empréstimos e das dívidas honradas da população.

Eu gostei tanto do filme, que para entender melhor, fiz uns desenhos rudimentares no power point para tentar visualizar melhor o emaranhado que foi essa crise das “subprimes”. Aí está meu “Fluxograma”, então, depois disso, coloque a pipoca no micro (Ou faça na panela mesmo, é mais gostoso) e tente ver o filme de novo, caso você não tenha visto, essas informações não serão Spoiler para você. AAAHHH, eu quase ia me esquecendo, tente fazer um paralelo com o mercado brasileiro, Minha casa minha vida, LCIs, mercado de opções, e etc. Creio que muitos apenas vão dizer “Ah, mas lá é diferente”, é...? Pode ser... Mas gosto muito da passagem da Bíblia em Eclesiastes que diz “... não há nada novo debaixo do sol.”
Boa sessão. OBS.: No NETFLIX você encontra o filme.




segunda-feira, 1 de maio de 2017

Síndrome de Robin Hood

           





           Robin Hood é uma figura que muitos acreditam ter realmente existido. Diversas são as versões de suas façanhas, porém a mensagem central é a mesma, um herói que rouba dos ricos para dar aos pobres, se tornando um nobre por isso. Esse comportamento é tão admirável que creio que Robin Hood deixou de ser apenas um personagem com uma história marcante, para se tornar um arquétipo de anti-herói. Lindo, não? Seria, se não passasse de uma história linear onde só existem duas correntes, justiça e injustiça. Esse preto no branco que só é totalmente palpável em romances.
Recentemente minha esposa e minha irmã foram sequestradas, extorquidas, feitas reféns e ainda sofreram assalto em casa de meus pais. Não quero entrar em detalhes do ocorrido, mas posso dizer que é uma coisa terrível, uma sensação de impotência, raiva e descrédito na sociedade. A gente tenta dar continuidade à vida, mas a coisa perde o sabor. Graças ao bom Deus, elas saíram ilesas da situação, porém um dos homens fugiu (e o outro é menor e logo estará de volta às ruas, espero eu que mude seus caminhos, sem demagogia), e isso nos causou muita insegurança, pois o tal homem não foi identificado pela polícia.
                Tentaram localizá-lo na suposta comunidade que ele morava, mas ninguém nunca delataria, ele simplesmente fugiu, sumiu, desapareceu. Aí que entra a tal síndrome do Robin Hood, pois as pessoas acreditam que não aconteceu nada demais, afinal os homens eram pobres e mereciam ter as mesmas coisas que os “ricos”. A ironia entra quando se confronta a realidade da minha vida e da minha esposa. Temos um Uno duas portas sem ar nem direção, sério! Ela não trabalha, pois precisou largar o emprego para cuidar do nosso filho que teve um problema de saúde. Moro com minha sogra, e por melhor que ela seja, droga eu moro com minha sogra, só com essa frase eu não precisava dizer mais nada, mesmo que ela fosse a madre Teresa (e ela não é), aposto que a frase que ela mais usaria comigo seria: “A dor tem a capacidade de aproximar às almas de Deus”. Cacetada! Esse Robin Hood deve estar variando das ideias. Ele possuía um Nike oito molas zerado e uma camisa do Bayern de Munique oficial. Bicho, eu uso o mesmo tênis desde a faculdade, a única roupa importada que eu tenho, é uma camisa do Star Wars que comprei no Wallmart nos EUA quando tive a oportunidade de trabalhar lá e me custou 7 dólares e noventa e nove cents (na época o dólar ainda estava abaixo dos três reais)! Mas mesmo assim para a comunidade, eles se tornam Robin Hoods.
                Estudei quase toda a vida em colégios públicos, minha mãe foi obrigada a me matricular em um colégio particular na sétima série por eu estar sofrendo ameaças na escola. Era coisa a toa, mas o tal garoto que me ameaçava queria que eu fizesse todas as lições dele, as provas e os trabalhos (inclusive os da dependência do ano anterior) e se não fizesse eu ia ganhar uns belos tabefes. Ele era primo dos caras mais perigosos da escola e da favela próxima, e por isso um dos mais populares da minha idade. Escondi enquanto pude a situação dos meus pais, mas um dia o tal Robin Hood ligou para minha casa e falou com minha mãe a respeito da coisa, exigindo os deveres dele. Era fim de semana e eu queria brincar e por isso resolvi tirar “folga” das minhas atribuições extras, ele não achou a menor graça e tratou logo de cobrar à minha mãe os deveres dele. Acabou que tive que mudar de escola.
                Essa época era engraçada. Na escola pública você encontra de tudo. Pequenos marginais, pessoas com dinheiro, mas que os pais já desistiram de pagar colégio, gente esforçada, gente realmente inteligente... E essa mistura em geral trás um ambiente altamente segregado. Os poderosos, em geral, são os que são conhecidos do pessoal do tráfico de drogas. Seria o equivalente aos esportistas nos filmes high school de sessão da tarde. Esses caras eram admirados, de verdade. É quem acha que o certo é roubar os playboys que estudam nos colégios particulares, afinal eles são ricos, todo mundo tem que ser igual, por que alguns podem ter e outros não?
                Essa é a merda da mentalidade que se forma desde a escola. Se você tem e eu não, vou tirar de você porque não é justo. Antes sua mãe chorando que a minha. Passei isso diversas vezes. Desde lanches roubados até material escolar, uma hora você acaba passando para o outro lado, começa achar injusto os caras que tem mais que você também, começa a se tornar popular, ser admirado, logo você se tornou aquilo que mais odiou. Essa é a maldita síndrome de Robin Hood invertida, vou tirar dos ricos para dar para mim. Começa a achar que a sociedade te deve alguma coisa, um vitimismo que só é usado para justificar seus atos, adora ser visto como uma vítima, porém odeia ser vítima, não tolera ser subjugado, não, não, isso é para os fracos. Esses Robin Hoods acreditam que são vítimas eternas das sociedades, não tiveram oportunidades, são produtos do meio, tudo isso para justificar o ato de tirar de alguém e dar para outro (mesmo que seja ele mesmo), afinal alguns merecem (eu e meus amigos) outros não.
                Se engana quem acha que isso só acontece na escola pública. Isso é em todo lugar, essa mentalidade de merda, essa legião da má vontade brasileira. Chefes que beneficiam seus “camaradas”, projetos culturais apoiados pelo governo, bolsa isso e aquilo só para quem é “da galera”, benefícios diversos para o “grupo de amigos”. Afinal de contas, “Aos amigos favores, aos inimigos a lei”.  Essa coisa invertida me deixa louco. Vale tudo para se conseguir o que deseja. Olha os governos aí que não deixam mentir. Lula disse que Dilma “pedalou” para dar o bolsa família, olha, temos uma Robana Hood. Sinceramente eu torço para que as pessoas olhem seus caminhos tortuosos e os consertem, porque tão pouco matar adiantaria alguma coisa, mortos não convertidos se tornam mártires (já dizia George Orwell), Robin Hoods executados pela polícia logo viram heróis e só servem de inspiração aos aspirantes (vide o que está acontecendo no Brasil).
A verdade é que essa mentalidade retrógrada, marginalizada e enraizada de Robin Hood só serve para justificar qualquer ato, em nome de uma dificuldade passada vale tudo. É fácil você explicar porque um pobre roubou ou matou, mas é difícil explicar os milhares e milhares de pobres que seguiram os caminhos da justiça e da legalidade. Juro, isso tem que acabar, não será justificando atos que se mudará um pensamento, uma mentalidade, o que muda o ser humano é a compreensão, compreensão do seu derredor, do seu mundo. Mudaram as escolas, as matérias para a realidade dos que entram, mudando o ensino pela pessoa, quando na verdade a pessoa devia ser mudada pelo ensino. Se um cão caga sua sala, você não deve tornar a sala seu lugar de evacuação para dizer aos quatro ventos que tem um cão educado à cagar na sala, e sim discipliná-lo até que ele aprenda a cagar no quintal, ora bolas. O erro do nosso país foi ensinar o moral invertido da história de Robin Hood, criando uma síndrome incurável da vítimas opressoras que acham que tudo se justifica para que não precisem mudar e refazer seus caminhos. É como querer mudar toda matemática para provar um teorema, ou toda física para provar uma teoria.

                Enquanto não se entender que o ser humano precisa encarar seus demônios internos, mudar seus caminhos, aprender com seus erros e acima de tudo, ser admirado por fazer um caminho correto, recompensado por fazer o certo, nunca o Brasil deixará de ser um celeiro de Robin Hoods. 

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Deixe eu me apresentar novamente...

Mudar é difícil, sério bicho, é difícil demais. Em geral porque ninguém percebe que você mudou ou quer mudar, e na maioria das vezes ninguém quer que você mude, já estão acostumados com você assim. Acho que todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já fez uma auto-análise e percebeu que necessitava de uma mudança brusca. É uma merda descobrir que você não é quem queria ser, que errou mais que acertou, que fez mal aos outros e a si próprio. A verdade universal é: Todo mundo erra. Uns mais outros menos.
Às vezes eu gostaria que nós pudéssemos nos "resetar" como as máquinas, começando do zero, com um "Deixe eu me apresentar novamente". É duro perceber que você só quer ser alguém melhor e falha compulsivamente nessa coisa todos os dias. Claro que não sou o mesmo de ontem e nem serei amanhã do mesmo jeito que sou hoje, mas acho sinceramente isso uma pena, acho triste o ser humano passar uma vida inteira buscando o sentido das coisas e na maioria das vezes descobrir que o sentido esteve ali todo o tempo, perceber que passou a maior parte da vida errando para descobrir que estava tudo ali e você não percebeu... Que bosta. Coisas como: eu devia ter escutado mais os meus pais, eu devia ter arriscado mais, devia ter pedido mais perdão, devia ter amado mais... Sei lá, cada um tem alguma coisa que devia ter feito mais e melhor... Só é uma pena... Sinceramente é um pesar mórbido... Eu só queria chegar para àqueles que me conheceram um minuto atrás e dizer: Deixe eu me apresentar novamente, eu quero mudar seu juízo sobre mim... Eu mudei, eu mudo e eu mudarei, espero que para melhor...

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Baleia Azul: O reflexo de uma sociedade solitária.

Nos dias atuais o sucesso individual é uma das características mais valorizadas pela sociedade. Esse tipo de vitória estimula grandes feitos individuais na mesma medida que apaga ou desencoraja feitos em grupo. A aclamação por um líder, um herói e um mito, é mais desejada, muitas vezes, do que um elenco entrosado, consistente e regular, no qual, seus membros possuem prestígio equiparado e habilidades próximas. Desde a separação de conjuntos musicais, que buscam carreira solo, como em corporações onde os líderes se vangloriam, muitas vezes sozinhos, e se beneficiando das bonificações da vitória não repassando parte desse sucesso à sua equipe, afinal, ninguém faz nada (ou quase nada) sozinho. Líderes religiosos que se enriquecem às custa de fiéis, individualizando seu sucesso como um sinal divino, colocando-se em um posto "abençoado" acima dos demais, ou até mesmo um pai de família que mente a si mesmo dizendo que  faz tudo sozinho na casa.
Esse individualismo reflete em todas as camadas, aqueles que conseguem se tornar "anti-frageis" dão pouca importância a isso e continuam vivendo da mesma forma, pouco se importando com o sucesso individual, sendo este apenas uma consequência de seu próprio trabalho individual em prol da sociedade e não o motivo fim, e objetivo de realizações.
Isso causou uma polarização social, algo como dois tipos de pessoas, os que se adaptam bem a esse mundo individualizado, gostam e preferem que seja assim, e os que acabam se tornando solitários. Esses últimos, não sabem ou não conseguem viver em um mundo individual, necessitando de outros que os estimulem, acompanhem e compartilhem, para que o ostracismo não os domine, a solidão não se manifeste e a depressão não os persiga. Seres humanos são criaturas sociáveis, mas a cada dia, os homens preferem se afastar tornando a convivência algo virtual.
Acredito que esse vácuo de convivência dê lugar a pensamentos depressivos e suicidas. Um indivíduo que compartilha seus medos e inseguranças com outros, em geral, tende a superar esses obstáculos, entretanto as amizades virtuais, o distanciamento da família e as relações superficiais, não dão brecha para esse tipo de conversa. Os solitários então se entregam a desafios de auto flagelo, como o da baleia Azul. O objetivo é óbvio, pelo menos para mim, um pedido velado de entrosamento e até de compreensão, mesmo em uma relação distante e prejudicial, no fundo eles tentam fundir tanto o sucesso individual (juntando-se a esses grupos) com a conclusão dos desafios depressivos e suicidas (sendo essas as últimas motivações dos participantes) como uma solução final para um mundo em que eles não se enquadram.
Os jovens estão mais suscetíveis a isso, infelizmente. A baleia Azul acaba sendo um pedido de ajuda, não apenas individual, mas de uma sociedade doente, onde o sucesso, a fama e a vitória (Mesmo que mórbida) promete ao solitário uma platéia para o aplaudir.

sábado, 15 de abril de 2017

Conversa Motivacional



Recentemente tive uma conversa com um amigo de trabalho. Ele é o tipo "Funcionário Perfeito", sempre disposto a acatar ordens, extremamente trabalhador, competente e totalmente dedicado à empresa. Sério, eu admiro gente assim, que você vê nos olhos dela que a coisa que ela mais ama na vida é o trabalho. Apenas para exemplificar o caso, uma vez eu tive que ir à empresa em um domingo às sete dá noite pegar uns documentos importantes pois eu iria viajar na segunda e precisava deles, encontrei esse colega lá, quando eu perguntei espantado o que ele fazia na empresa naquele horário, ele respondeu que "estava entediado em casa e resolveu ir na empresa ver se podia adiantar alguma coisa", vale lembrar que em seu controle de ponto ele deixou folga, pois foi iniciativa dele mesmo ir e ele não achava justo ganhar o dia a mais... Sério, isso é lindo!
Já estava na boca do povo que meu nome estava rodando na "Lista". Quem trabalha em grandes corporações sabe como essas listas misteriosas são uma desgraça sem tamanho. Todo mundo com medo, apreensivo, fazendo contas na cabeça, pensando nos cônjuges e nos filhos... Eu confesso, também fico assim, ou melhor, já fiquei muito, as ameaças são tão constantes e cada vez maiores em tempos de crise que a gente deixa de se importar muito depois de um tempo para não bater biela... Mas esse amigo gosta muito de mim, eu o ensinei muitas coisas e ele se importa comigo, de verdade, sem demagogia. Quando ele soube dos rumores, tratou logo de ter aquela "Conversa Motivacional", afinal ele não queria me ver no olho dá rua com mulher e filho pequeno para sustentar.
Me chamou no canto e começou a falar que eu era bom, que não podia desanimar, que eu devia me dedicar mais, que estava difícil mesmo, que eu não podia contar com a sorte... Eu sabia porque ele estava dizendo isso, nosso antigo chefe teve um desentendimento comigo por bobeira (ele estava uma pilha e duas vezes mais pressionado que qualquer um) e meu feedback com ele estava péssimo, pior, nem tivemos chance de conversar direito para que eu pudesse mostrar meu ponto de vista, ele entendeu algumas colocações minhas totalmente errado, enfim, ele não estava muito afim de ouvir, e pra dizer a verdade eu também não estava com muito saco para me explicar. Fato foi que ele jogou meu nome para alta gerência e fiquei por um fio de cabelo da demissão. A minha sorte foi que ele acabou indo para outra posição, e o novo chefe gostava de mim e resolveu me deixar na empresa, por isso esse amigo disse que eu não podia contar mais com a "sorte". Está aí uma coisa que me mata, sorte, eu tive sorte, não foram anos de trabalho bem feito... não, não foram dias e dias fora de casa, pouquíssimo tempo com minha família,  datas perdidas, aniversários  perdidos, primeiro natal e ano novo do meu filho eu estava a 100 km da capital do ISIS no Iraque trabalhando, não foram os diversos trabalhos internacionais de sucesso, não... Foi sorte... Cara, como eu sou sortudo.
Eu adoro esse meu amigo, mas minha vontade era pedir permissão pra cagar e sair fora dá conversa. Ele veio com aquela conversa que a empresa paga meu salário, e que eu devia me dedicar ainda mais nesse momento de crise, que eu devia cortar o cabelo (e eu acabei cortando mesmo) me mostrar melhor. Tentei explicar que aquilo era um coisa geral, todo mundo estava sobrecarregado, tentei dizer a ele que era uma reação normal, todo mundo trabalhado mais, ganhando menos, sendo muito mais cobrado e pressionado, que era normal aquele desanimo geral, mas ele respondeu que não podia ser assim, que agora era a hora de dar ainda mais (sério velho, eu tô com 4 meses de folga acumuladas, mesmo se eu quisesse muito, eu ia ter que pedir folga pra ter tempo de me dedicar) e deu seu recado motivacional dizendo que eu tinha que pensar na minha esposa e filho. Eu ouvi... É isso que a gente faz quando uma pessoa quer falar e não ouvir argumentos contrários, quando ela desconhece sua realidade, seus sentimentos e mesmo assim acha que tem a solução pra sua vida, você ouve. Ouve e fica balançando a cabeça de modo afirmativo pensando se vai dar tempo de comprar o presente de aniversário da sua esposa.
Eu sei que ele fez o papel de amigo dele, sério não quero ser mal agradecido, ele está preocupado com meu emprego e minha família, eu sei disso, a verdade é que estou de saco cheio. Eu também estou preocupado com minha família cacete, estou preocupado em nunca estar em casa quando meu filho aprende algo novo, de não ter tempo de coloca-lo para dormir, estou preocupado com minha esposa que vive sozinha sobrearregada, estou preocupado com minha família, pode apostar. Ele finalizou a conversa perguntando se eu quero perder o emprego já que a chefia estava sentindo que eu não estava "rendendo" e era melhor me demitir e contratar dois caras, segundo eles tem "filas de desempregados querendo" meu lugar. Claro que não quero perder eu emprego, mas antes disso, não quero perder minha família. Ele então me aconselhou a dar o melhor de mim, me esforçando em fazer mais, trabalhar mais, desenvolver mais projetos nas folgas (que folgas?!!), garantir meu emprego e não contar com a "sorte". Agradeci os conselhos, e ele pareceu feliz em me "ajudar".
Entendi tudo e tal, talvez  ele até estivesse certo, mas a verdade mesmo era que eu queria que ele me mostrasse a loja que ele estava comprando a felicidade da família dele enquanto passava sua vida trabalhando para a felicidade da empresa.

domingo, 9 de abril de 2017

Notícias do Fim do Mundo



Quem tem o costume de ler essas mal traçadas linhas sabe que eu gosto de coincidências. Talvez eu tenha dito que gosto de padrões matemáticos, porém o que são eles se não coincidências numéricas? De qualquer forma coisas "estranhas" sempre precedem grandes acontecimentos.
Por exemplo, em 18 de Junho de 1940, o general francês Charles De Gaulle, fugido das invasões nazistas, foi para Inglaterra e foi recebido por Churchill, lá fez uma transmissão de rádio admitindo que a França havia perdido a batalha, mas não a guerra, a coincidência está no fato de, nessa mesma data, 125 anos antes, Napoleão perdia a batalha de Waterloo.
A vida está cheia de coincidências, e eu sempre acho que são uma espécie de preságio, talvez eu seja um pouco superticioso (e também sou botafoguense, seria isso um presságio?).
Por exemplo o "milagre" do sangue de São Gennaro, em que em o sangue seco do santo se torna líquido em três datas distintas desde 1389. Às vezes que isso não aconteceu, foram prenúncios de grandes catástrofes, como em 1527 quando milhares de pessoas morreram pela praga, e em 1939, ano que se iniciou a segunda guerra mundial. Em 16 de Dezembro de 2016 o "milagre" não ocorreu, e as bocas começaram a falar que era o prenúncio de um 2017 amaldiçoado, será?
Em 18 de Fevereiro deste ano, Trump falou sobre um ataque acontecido na Suécia no dia anterior (17 de Fevereiro, sexta feira), ele foi ridicularizado, obviamente, afinal nenhum ataque terrorista havia sido feito contra a Suécia. Pois bem, em uma outra sexta feira, 49 dias depois, um ataque terrorista acontece em Estocolmo. Que coincidência, não?
E os ataques à Síria? Todos sabem que Trump durante sua campanha fazia um apoio "velado" à Bashar Al-Assad, assim como Putin. Nessa mesma época, Turquia e Rússia estavam no auge de suas tensões. Caças russos derrubados na Síria por turcos, embaixador Russo morto por radical turco... Enfim, conflitos geopoliticos.
De repente um ataque químico, supostamente orquestrado por Assad muda tudo. Trump, quase sempre favorável a Putin e Assad, ordena o bombardeio com mais de 50 Tomahawk contra às bases de Assad, dando uma reviravolta no contexto das relações internacionais, mudando tudo. Coincidência ou não, os especialistas que afirmaram se tratar de gás tóxico Sarin, foram turcos. Que estranho...
A verdade é que sou aficionado por essas coisas, a mim, me parecem, prenúncios do caos. Gosto de falar para as pessoas prestarem atenção nas "estranhezas" econômicas, sociais e políticas, gosto de instigar isso nelas porque sinto que temos uma memória muito curta, somos bons para captar mensagens curtas e rápidas, ter raciocínio de tomada de decisão imediatas e facilidade em tirar conclusões enormes em pequenos textos (vide tweet), mas isso também faz com que esqueçamos os pormenores escondidos e misteriosos que nos rodeiam. Apenas um conselho, precisamos ficar atentos a essas notícias do fim do mundo.

sábado, 8 de abril de 2017

Carta à esposa do embarcado




Meu amor,

Chegou o dia do embarque. A RT está impressa, a mala feita. Já verifiquei meus itens pessoais e de higiene. Chegou a hora de ir para a plataforma. Sei que fiquei apenas três dias em casa, talvez eu não tenha dito "eu te amo" e nem brincado suficientemente com nosso filho. Acho que gritei mais do que de costume, me desculpe, não pude evitar, na verdade eu poderia, agora, pensando melhor, eu não deveria ter gritado quando não achei a chave do carro, ou àquela camisa nova, mas eu precisava dela, eu tinha uma reunião com o chefe e ele está no meu pé, acha que eu não estou "rendendo" suficiente. Como você sabe, nos últimos três meses passei apenas nove dias em casa, acho que estou cansado, talvez seja estafa, vai saber...
Nosso filho aprendeu onze novas palavras nos últimos quinze dias que estive fora, me lembrei que também não o vi dar os primeiros passos, estava fora no primeiro natal e ano novo, perdi também nosso aniversário de casamento, porém comprei o presente, o correio mandou. Não fui à formatura da minha irmã, nem nas bodas de meus pais. Faz parte...
Mas a mala está lá na sala olhando para mim. Depois de tantos anos a véspera do embarque continua me agitando, a noite foi mal dormida. Sabe o filme Deepwater Horizon ? Não que eu pense que vai acontecer comigo, afinal nunca aconteceu nada, espero que continue assim, mas a véspera continua tão assustadora quanto a primeira vez. No helicóptero sempre terão aqueles que farão o sinal dá cruz, outros que farão suas orações em silêncio, àqueles que se agitarão, os que se enrolam com o cinto de segurança ou o colete salva-vidas... Normal, todo embarque tem.
Parece que a vida para aqui em cima. Sinto que o relógio dos acontecimentos trava até eu voltar, mas ele para só pra mim, a vida continua aí embaixo, nosso filho aprende novas palavras e peripécias, entretanto eu não estou vendo, tudo para mim é reprise, não consigo comprar as entradas das estreias das nossas vidas. A vida está passando enquanto estou aqui... O relógio não descansa esperando que eu volte para casa.
Lembro que nosso filho estranhava quando eu chegava, demorava a "se soltar" de novo comigo. É horrível. Não que ele não reconhecesse, eu sei que ele reconhece, é pior que isso, eu sei que ele está chateado, o pai dele sumiu, deixou ele, voltando duas semanas depois, sem aviso, fingindo que nada havia acontecido. Para mim é um espaço, eu só quero voltar onde parei, mas pra ele não é assim, eu sei, eu sinto. Isso me chateia, mas agora ele se acostumou com minha ausência, e não sei o que é pior, se é meu filho "puto" com minha falta ou acostumado com minha ausência.
Sei que você pede para eu largar tudo, e eu penso isso, mais de uma vez por dia, porém como vou fazer isso? Como sustentar vocês? Sei que você fala que precisa dá minha presença e não do meu trabalho, mas você concorda que é trocar um problema por outro? Talvez ainda maior?
De qualquer forma a vida não para, eu as vezes sinto que ela para por quinze dias esperando eu voltar, mas ela não espera e parece água escorrendo das minhas mãos. Tento mentir para mim mesmo dizendo que na verdade sou um guerreiro solitário indo em busca do nosso sustento, um homem do mar se sacrificando pela família... Quem estou querendo enganar? Sou um peão. Um homem que não sabe fazer mais nada além de embarcar e me sujar, seguir ordens e as vezes engolir certas humilhações e injustiças pensando no salário no final do mês, fui moldado (ou deixado moldar). Sinto que não sei fazer mais nada, por mais que eu queira ser outra coisa, as vezes penso que não sei fazer mais nada além de viver essa vida louca.
Queria estar com vocês, lembro do sorriso do nosso filho, lembro de você... Uma imensidão azul está entre a gente... Posso apenas pedir que vocês me esperem, mais um vez... Talvez dessa vez o tempo que a gente passar junto possa preencher essa distância, ou pelo menos encurta-la, não sei, acho que a cada embarque sou um ser diferente, um ser mais distante até o ponto que eu seja um completo estranho, porém aumento essa esperança de me tornar parte da família de novo, uma esperança cada vez tão distante que talvez eu já tenha que substituir a palavra por fé...
Mais uma vez te peço, me espere... E não desista de me esperar ou de não me deixar ir... Eu estou voltando, e como dizia o Lulu Santos, "Eu estou voltando para casa outra vez."

quarta-feira, 5 de abril de 2017

CORDÃO DE TRÊS DOBRAS (Em Andamento)






Cordão de Três Dobras foi um original que escrevi para minha esposa e estava engavetado há uns anos. Estou re-editando e postando aos poucos no Wattpad. Quem quiser (e puder, é claro) ir acompanhando os capítulos lá, vai ser muito bem-vindo. É DE GRAÇA e ajuda muito.

Essa novela (sim, novela porque tem menos de 40 mil palavras e por isso não se caracteriza como romance), está disponível Aqui começando no prefácio.

Sinopse: Um astro do rock tem seu casamento destruído pelos exageros da fama. Discussões recorrentes ,e cada vez mais intensas, levam o casal ao divórcio e ambos tentam recomeçar a vida depois de anos juntos. Porém um acidente muda tudo. O homem, em um estado de coma, tem uma experiência de quase morte. Vendo-se no paraíso, faz uma viagem interna sobre suas motivações, escolhas e erros. A mulher, vendo seu ex-marido no leito do hospital, faz uma análise de toda a relação, suas expectativas e frustrações.

Cordão de Três Dobras fala de arrependimento, perdão e recomeço.


Obrigado a todos.

quinta-feira, 16 de março de 2017

A corrida da mudança


   Eu sou uma pessoa meio fechada. Digamos que sou um pouco grosseiro (e não me orgulho nem um pouco disso), tenho um temperamento difícil e facilmente ofendo pessoas que eu gosto por ter um sério problema em não medir as palavras. Antigamente, para maquiar meu defeito, eu costumava dizer que as pessoas não aceitavam ouvir a verdade “na lata”, com o tempo percebi que eu era quem devia rever meus conceitos.
    Minha esposa diz que existem “jeitos de se falar as coisas” e eu, até hoje só conheço um, o direto. Os amigos dizem que sou “bruto, grosso e sistemático” e por mais que eu tente não ser, parece uma característica tatuada em mim. Certa vez ouvi um pastor protestante dizendo que se você tenta mudar uma característica que você não gosta, as pessoas levam anos para perceber que você mudou, e com qualquer deslize seu, a resposta vem “você não muda mesmo hein...” é difícil mudar e mais difícil ainda as pessoas perceberem sua mudança.
   Pelo menos uma coisa eu aprendi desde cedo, pedir desculpas. Claro que pedir perdão não volta no tempo, não apaga mágoas ou erros, mas o auto reconhecimento dele é o primeiro passo para a mudança. A mudança é o caminho mais duro que alguém pode percorrer e na maioria das vezes, você cruzará a linha de chegada e ninguém estará lá para ver sua vitória.

Por isso, a mudança é apenas uma corrida contra você mesmo, sem torcida ou espectadores, é apenas uma corrida contra o você de ontem, e o pedido de desculpas é o aquecimento dos músculos para que você não distenda suas fibras em um movimento brusco, e nunca mais volte a correr.

Teimosia ou Determinação?


     





     Eu tenho um amigo que diz que se alguém chamar você de cavalo uma primeira vez, você deve ignorar, na segunda vez, refutar e na terceira vez, sair e comprar ferraduras. Acho que no fundo ele está certo. A teimosia é algo que nos acompanha e na maioria das vezes nos prejudica. Mas às vezes teimosia pode se confundir com determinação. Você pode se perguntar como isso é possível? Mas sim, teimosia se confunde com determinação diversas vezes.



     Quando eu era adolescente, eu treinava artes marciais. Comecei a treinar com dezessete anos e foi o único esporte que eu era realmente bom. Claro que eu nunca tive qualquer pretensão em viver com artes marciais, mas aquilo era uma paixão para mim. Na academia fiz grandes amigos, e o melhor de tudo, conheci minha esposa no tatâmi, ela era filha do mestre (olha que prova de coragem). Meu cunhado foi o meu maior algoz, eu nunca apanhei tanto na vida quanto apanhei dele (e da minha boca ele nunca vai ouvir isso). Apenas posso dizer que o meu cunhado foi meu maior professor, não há nada que ensine tanto como "porrada", seja na vida, seja na luta.

     Nossos treinos mais pesados eram aos sábados, e a cada sábado eu saia da academia repetindo a mim mesmo "eu nunca mais volto, eu lá sou masoquista para gostar de apanhar assim?" Mas lá estava eu segunda feira de novo... Sim eu era teimoso (ou determinado). Eu e ele somos amigos, pelo menos eu assim o considero, e com certeza  meu cunhado foi o melhor artista marcial que eu já vi lutar. De certa forma ele me ensinou a ser "teimoso" e a levantar após cada knockout.

     Porém chega um tempo na vida do homem que ele tem que fazer escolhas. Meu cunhado optou pela mesma carreira do pai dele, viver de artes marciais, eu, por outro lado, segui a faculdade e um emprego "estável". Meu cunhado passou muitos anos travando uma batalha feroz para se manter com essa carreira de lutador, eu, como bom conselheiro, apenas dizia que ele "devia deixar essa coisa para lá que não daria em nada e arrumar um emprego".

     Mas ele era "teimoso". Não desistia, às vezes tirava do próprio bolso para manter sua academia funcionando. Nos períodos de férias era sempre uma pindaíba, os alunos trancavam as matrículas, mas o aluguel continuava. Eu e minha esposa víamos o sofrimento dele, mas eu sempre dizia que ele devia "parar com aquela coisa e arrumar um emprego descente". Eu dizia à minha esposa " seu irmão não toma jeito". A mãe dele pedia para eu conversar com ele, dizendo que ele precisava de conselhos, que estava com essa coisa de academia e não dava dinheiro, eu falava, porém ele era muito teimoso.

     A coisa piorou quando a namorada dele engravidou, aí eu apenas murmurei "e agora? O que ele vai fazer?". Eu achei que ele finalmente ia deixar aquela brincadeira de lado e ia tomar rumo na vida, afinal estava vindo um bebê. Que nada, eu já estava querendo comprar um par de  ferraduras para ele.
Ele continuou naquela coisa de luta. Eu apenas dava de ombros, falava com minha esposa que eu achava que ele havia perdido a cabeça. A teimosia dele o levaria à ruína, não tinha o que fazer. Um homem teimoso está fadado ao fracasso.

    Então veio a crise, a academia esvaziou, as contas chegaram, o bebê nasceu... Tudo junto... e agora? Meu cunhado estava passando um aperto financeiro, sua esposa perdeu o emprego e a academia não rendia. Olha onde a teimosia leva...

     Então, um Sheik dos emirados veio ao Brasil. Faria uma seleção dos melhores lutadores para levar para os EAU (Emirados Árabes Unidos) para serem professores das forças armadas. Meu cunhado se mandou para o Rio de Janeiro, local das seletivas. Em meia hora ele chocou (positivamente) a todos com sua técnica (o bicho era bom de porrada). Poucas semanas depois ele tinha uma passagem para Dubai, casa, comida e transporte por conta do Sheik, e o melhor, um excelente salário. Ele está feliz da vida com sua família em Dubai, e eu, estou tentando sobreviver à crise, matando um leão por dia para manter o emprego... Que bichinho teimoso...

segunda-feira, 13 de março de 2017

Presente Para Namorada



        No dia dos namorados é mais que essencial fazer alguma coisa especial com o(a) Parceiro(a). Geralmente é quando os homens e mulheres recebem a inevitável “facada” financeira. Minha esposa diz que eu não sei dar presente (e essa constatação vem desde os tempos de namoro), entretanto acredito que estou melhorando. Segundo ela, eu dou presentes que eu gostaria de receber. Não seria essa a forma mais pura de amor? Dar o que você gostaria de receber? Não para minha esposa (na época, namorada) e eu não tiro as razões dela.
            A história que vou contar é verídica, e foi quando eu percebi que devia mudar meus hábitos em dar presentes. Sabe como é, a praticidade é um “defeito” das exatas e dos homens. A gente acaba dando presentes usuais, eu gosto de receber presentes que me tem alguma utilidade e caio no erro de achar que todos são iguais. Mas também acredito que (poucas vezes) minha esposa também já me deu presentes que ela gostaria de ganhar, com excessos de romantismo e criatividade, contudo pouco usuais.
            A despeito disso, eu não entendia que o erro era meu, que dar presentes que eu queria receber não era a melhor maneira de demonstrar carinho. Demorei a perceber que isso não funcionava. Confesso que minha esposa precisou ser direta para me fazer entender. Sempre que eu dava um presente, ela sorria me abraçava e agradecia, por isso sempre achei que eu estava fazendo algo ótimo, e que meu jeito de abordar essa coisa do agrado estava perfeita.
            Foi então que em certo aniversário de namoro (se me lembro bem), lá fui eu comprar o presente. Minha esposa costumava acertar com eles, principalmente me dando diversos livros do Stephen King (qualquer dia falo dele) que eu adoro. Então, eu acreditava que ganhar livros era ótimo, já minha esposa não era tão aficionada assim neles. Lá estava eu sendo “magnetizado” para uma livraria enquanto percorria despretensiosamente o centro comercial.
            Olhei os livros, dei uma vasculhada e até cogitei dar um livro do “Stevie” para ela, mas ela não gostava das histórias dele. Então, meus olhos fixaram-se em um livro Uma Mente Brilhante de Sylvia Nasar. Para quem viu o filme, aquilo era um achado e tanto. Eu havia assistido a película, achava a abordagem do matemático John Nash incrível, além de ser uma lição de vida e superação. John Nash foi muito conhecido com seus trabalhos sobre teoria dos jogos, além de ser ganhador do Nobel de economia. Por isso, assim que avistei sua biografia quis logo compra-la. Que presente seria melhor que esse? Minha namorada iria adorar, eu tinha certeza.
            Mas não para por ai, bom namorado como eu era, já pensei lá na frente, queria dar o kit completo da felicidade. Ela havia acabado de gastar 4 meses de salário em um laptop, era o novo xodó dela. Por isso pensei “Ela precisa de uma caixinha de som para ele e um mouse”. Logo, completei o presente perfeito, a biografia do John Nash, uma caixinha de som para computador e um mouse rosa (olha como sou romântico).
            Quando chegou o dia, saquei da minha inseparável mochila o livro. Dei com toda a felicidade do mundo aquele manuscrito à minha namorada (hoje minha esposa). Ela esboçou, notoriamente, um sorriso totalmente forçado – sério – o esforço que ela fazia para sorrir com o presente devia estar fazendo doer seus músculos faciais. “Qual é o problema?” pensei. Não me dei por vencido, olhei para ela e disse “Mas não é só isso, tem mais.” Ela soltou um sorriso aliviado, eu juro. Soltou o ar dos pulmões piscando longamente os olhos e em seguida uma risada descontraída.
            Então eu apresentei o restante do presente. Coitada, ela não conseguiu mais disfarçar, o alívio que sentiu poucos segundos antes se esvaiu por completo. “É esse o presente?” perguntou em voz trôpega. “Sim! Gostou?” – “Ai amor...” Foi a resposta dela. A menina estava sem vida. Parecia que havia acabado de correr uma maratona e ficado em último lugar. Sua feição era cansada e frustrada.
            Eu não conseguia entender qual era o problema. Um presente perfeito desses. Um livro maravilhoso, uma caixinha de som para ouvir os documentários na internet e um mouse rosa (olha que mimo). Qual era o problema? “Não gostou do livro?” Arrisquei. Ela apenas respondeu que não era “o estilo de leitura dela”. “Tudo bem. Eu fico com ele. Sem problemas. Parece um livro ótimo”, essa foi minha resposta, problema resolvido. As exatas não são o máximo? Se ela não quer eu quero. Simples.
            Não, não é tão simples. Eu juro que não entendi a frustração dela com o presente (e até hoje eu acho que o livro foi um presente excelente), mas não era isso que ela esperava, e levou um tempo até eu descobrir. Levou exatamente o tempo até que ela me contasse. Imagino que se você for mulher, ou até um homem um pouquinho de nada sensível, já deve ter entendido qual foi o problema do presente, juro que não entendi até que ela foi clara comigo. Ela simplesmente esperava um presente que a fizesse se lembrar da gente, algo que a fizesse se sentir amada. Uma flor tirada da rua seria melhor, segundo ela.

            Para mim não fazia sentido, todavia entendi. Entendi que presentes são para fazer as pessoas se sentirem especiais, amadas e lembradas de uma forma especial. Entendi que cada data para minha esposa tinha uma conotação de presente diferente (para mim qualquer dia de presente é presente, tanto faz), cada situação fazia diferença na hora de escolher o que dar, ou fazer. Entendi com ela que presentes nem sempre são comprados, e mais importante, que um presente serve para fazer as pessoas se lembrarem de você através de algo que as faça feliz.

Fazendo bem o que não gosta

            Não sei se acontece com todo mundo, mas pelo menos comigo, passo grande parte do meu dia fazendo muito bem coisas que eu não gosto e em contra partida, fazendo coisas que eu gosto de maneira ruim ou displicente. Acho que isso é uma coisa que se aprende desde criança. Você pode ser um apaixonado por música, mas não conseguir executar um bom acorde no violão, odiar estudar, e ser um dos melhores alunos da classe. Juro, isso pode acontecer, e aconteceu comigo.
            Eu confesso que não era um aluno que “curtia” escola, não gostava mesmo. Os professores, na minha opinião, eram um bando de quadrados e chatos tentando enfiar um monte de inutilidades na minha cabeça e pelos quais eu não nutria nenhuma admiração. Confesso que a culpa era minha, e não deles. Afinal, eu não tinha interesse naquilo, não gostava e achava ir à escola um saco.
            Mamãe sempre dizia que a gente precisava estudar para ser alguém, e eu fazia o que era obrigado, e até me saia bem. A coisa começou a mudar pelo ensino médio. Aulas mais interessantes, professores dinâmicos, uma pretensão à independência... Porém lá estava eu fazendo bem coisas que eu não gostava e mal, coisas que eu gostava. Eu sempre apreciei ler. Comecei com os gibis (tenho muito a agradecer ao Maurício de Souza), depois livros pequenos, biografias, clássicos e por ai vai. Gostava de escrever, adorava as aulas de redação, mas eu nunca passava da droga dos 7,5. Eu tinha uma excelente professora de redação (Senhora Mônica, tenho uma foto com ela no corredor da casa dos meus pais) Porém eu nunca cheguei a chamar sua atenção com meus textos.
            Eu aguardava ansiosamente o resultado das correções em uma aula pré-vestibular intensiva em redação com ela. Sete, sete e meio, sete, sete, seis e meio... Eu não escrevia bem, apenas constatei isso. Eu me esforçava, esboçava, corrigia, pesquisava, tentava chamar a atenção com os textos que eu achava uma obre prima, e lá estava o sete.
            Ok. Ok, vai, o sete não era tão ruim, mas o que me deixava encucado eram as notas que eu tirava em matemática. Oito e meio, nove, nove e meio e por ai vai. Eu não me esforçava, mas os números eram bem claros para mim, não tinha floreio. Entretanto, minha paixão era a tal da escrita. Na época eu queria fazer vestibular para publicidade e propaganda. Meus amigos diziam que era minha cara. Eu sempre elaborava os trabalhos em grupo com vídeos, traçando o roteiro (sempre em tom de troça), escolhendo os papéis, editando as falas e principalmente... improvisando.
            Todavia algo mudou minha cabeça. Um professor de matemática vendo minhas altas notas em física e matemática e minhas notas medianas em português, redação e literatura, me disse que eu devia repensar minha escolha. “Você tem muita aptidão com números, devia pensar melhor na carreira que quer escolher, você devia fazer engenharia”. Aquela coisa de fazer engenharia martelou minha cabeça.
            Eu venho de uma família com recursos financeiros escassos (Hoje estamos mais folgados graças a Deus) e naquela época a engenharia estava “bombando”, era minha chance de comprar umas cuecas “da hora” da Zorba e um presto barba Mach 3. Se eu fosse engenheiro a coisa ia ficar boa para mim, ia ganhar uma grana legal, todo engenheiro de petróleo na minha cidade era tido como “rico”. Pensei que aquela era minha chance, e de fato foi, apesar de eu ter passado longe de ficar rico, a crise devastou tudo, mas deixa isso para outro papo.
            Movido pelo conselho do meu professor de matemática, mudei meu foco, faria engenharia. Meus amigos estranharam, diziam que não tinha “nada a ver” comigo. Era compreensível, passei a adolescência quase toda dizendo que eu não queria ser médico e nem gostaria de trabalhar com números, apesar de gostar deles, é verdade, eu adoro números, padrões, cifras e criptografia, mas na adolescência eu não me via trabalhando com eles.
            Prestei vestibular e passei em primeiro colocado para Engenharia de Controle e Automação no Instituto Federal fluminense, e concluí, minha nota de conclusão foi máxima. Desenvolvi um modelo automático de seleção de vagas de um shopping utilizando distância e velocidade média como parâmetros de seleção, a coisa ainda tinha uma maquete com o protótipo. Ficou muito bom.
            Por que estou contando tudo isso? Porque eu acabei fazendo “bem” aquilo que não era uma paixão. Não sou um apaixonado em programação, nem em números, eu apenas gosto. Sempre amei escrever, como eu disse no começo, e continuei praticando todos esses anos (nada que preste de 2004 até 2016, eu confesso), mas aquele sete em redação sempre me perseguiu.
            Eu adoro escrever, todavia me sinto um escritor medíocre, apesar de ter escrito dois livros em dois meses e estar participando do prêmio SESC de literatura nas duas categorias, e os dois livros me agradaram, mas nunca irão agradar os jurados, tenho certeza, mas eu gostei deles, mesmo com o pouquíssimo tempo que eu tive para escrever e revisar. Fiz todo o processo com um prazer imensurável. Porém, mesmo assim me sinto péssimo no que adoro fazer, enquanto faço bem o que “nem tanto”.

            Pergunto-me o que teria acontecido comigo se eu não tivesse ouvido àquele professor... Nunca saberei. Talvez eu estivesse feliz e contente escrevendo propagandas de marketing, colunas de jornais, romances... Ou talvez eu fosse um profissional medíocre, baixa performance, não valorizado, mendigando um emprego, sem perspectiva de futuro... E talvez eu estivesse pensando “Onde eu estaria agora se tivesse ouvido o meu professor de matemática?”

domingo, 12 de março de 2017

Por que um engenheiro deve escrever?

  


     Por que escrever? Afinal de contas eu sou um engenheiro. Um executor das ciências exatas, um interprete de números, um solucionador de equações, um artista dos teoremas, um escultor de cálculo diferencial integral, um pintor de gráficos e geometria analítica, um dançarino dos sólidos de revolução, um historiador da álgebra linear, um jornalista dos transfinitos...
Imagino que boa parte dos escritores têm uma certa incerteza ou até mesmo uma pequena desconfiança com o "pessoal" das exatas. Pudera, engenheiros, físicos, químicos e matemáticos são conhecidos por sua frieza, seu comportamento metódico, seu raciocínio lógico e por sua "quase" ausência de sentimentos. Claro que isso não é totalmente verdade, e nem mentira. Muitas vezes o profissional de exatas tende a ir direto ao ponto. São bons em escrever manuais, "Acople a roldana A no contra pino B passando pelo moitão C até que a contra-trava D esteja totalmente fixada". Um poeta provavelmente acharia isso maçante até quase a morte, mas deve-se concordar que, caso ele fosse o redator do texto, seria algo no mínimo cômico "A roldana A desfalecia em solidão, parte dela se foi, deixando um imenso vazio... Oh contra pino, que fostes fazer tu com o moitão? Não devíeis passar primeiro por mim? E você contra-trava? Por que andas tão frouxa e sem firmamento? Acaso tu também perdeste seu igual?"
Creio que a objetividade das exatas não agrada o público mais exigente. A literatura do tipo "se B igual não A, então A ou B, tautologia" não dá muito certo com os leitores. Claro que não! Isso é chato. Ninguém quer ler um livro onde o escritor diz: – Olá? – Disse a mulher assustada. Nenhum leitor quer que você diga a ele o que está acontecendo, ele quer sentir, quer experimentar o personagem. Na engenharia, por outro lado, não se tem lugar para duplas interpretações. Tanto isso acontece, que na programação e em lógicas programáveis existe o que chamamos de redundância. Trata-se de deixar o que você deseja sempre funcionando com repetições desnecessárias (mas usuais em caso de falhas) para que o sistema esteja sempre alimentado e funcionando.
Todavia, redundância, tão apreciada nas ciências exatas, é totalmente repulsivo na literatura. Por essas (e diversas outras) questões, engenharia e literatura parecem tão distantes. Parecem, mas não são. Quando entrei na faculdade de engenharia um professor me disse "Aqui vocês aprenderão a desenvolver soluções", ser engenheiro é buscar soluções práticas. Tento aplicar isso no que escrevo, mas peco no meu "cacoete" de engenheiro, o velho "Se A então B". Posso desenvolver tramas bem armadas, soluções lógicas, enriquecer a história com tecnologias que dão realismo ao desenvolvimento, mas me falta, talvez, uma "humanização" do personagem. 
Por isso escrevo. Escrevo para que eu não me transforme em máquina. Escrevo para que eu não seja totalmente moldado, escrevo para me entender, entender os outros, observar mais e ouvir mais. Escrevo porque a cada personagem que se torna tão verossímil para mim a ponto de se tornar real, vejo que meu lado numérico, está mais humano. A engenharia é um curso espetacular, mas de alguma forma ela mata você por dentro. Há pouco lugar para sentimento e muito lugar para raciocínio. Ao sair da faculdade me deparei com um trabalho que também mata aos poucos (Falarei disso em outra oportunidade), e então lembrei que um dia eu também quis ser um artista, lembrei que um dia, para mim, números eram só números e palavras e sentimentos eram tudo o que eu tinha.
Então, escrevo. Escrevo para me tornar humano de novo, escrevo porque acho que a lógica, a exatidão e o desenvolvimento de soluções da engenharia têm muito a oferecer a literatura, contudo, acima de todas essas coisas, escrevo para mim, escrevo para ser feliz.