Robin Hood é uma figura que
muitos acreditam ter realmente existido. Diversas são as versões de suas
façanhas, porém a mensagem central é a mesma, um herói que rouba dos ricos para
dar aos pobres, se tornando um nobre por isso. Esse comportamento é tão
admirável que creio que Robin Hood deixou de ser apenas um personagem com uma
história marcante, para se tornar um arquétipo de anti-herói. Lindo, não? Seria,
se não passasse de uma história linear onde só existem duas correntes, justiça
e injustiça. Esse preto no branco que só é totalmente palpável em romances.
Recentemente minha esposa e minha
irmã foram sequestradas, extorquidas, feitas reféns e ainda sofreram assalto em
casa de meus pais. Não quero entrar em detalhes do ocorrido, mas posso dizer
que é uma coisa terrível, uma sensação de impotência, raiva e descrédito na
sociedade. A gente tenta dar continuidade à vida, mas a coisa perde o sabor.
Graças ao bom Deus, elas saíram ilesas da situação, porém um dos homens fugiu
(e o outro é menor e logo estará de volta às ruas, espero eu que mude seus
caminhos, sem demagogia), e isso nos causou muita insegurança, pois o tal homem
não foi identificado pela polícia.
Tentaram
localizá-lo na suposta comunidade que ele morava, mas ninguém nunca delataria,
ele simplesmente fugiu, sumiu, desapareceu. Aí que entra a tal síndrome do
Robin Hood, pois as pessoas acreditam que não aconteceu nada demais, afinal os
homens eram pobres e mereciam ter as mesmas coisas que os “ricos”. A ironia
entra quando se confronta a realidade da minha vida e da minha esposa. Temos um
Uno duas portas sem ar nem direção, sério! Ela não trabalha, pois precisou
largar o emprego para cuidar do nosso filho que teve um problema de saúde. Moro
com minha sogra, e por melhor que ela seja, droga eu moro com minha sogra, só
com essa frase eu não precisava dizer mais nada, mesmo que ela fosse a madre
Teresa (e ela não é), aposto que a frase que ela mais usaria comigo seria: “A
dor tem a capacidade de aproximar às almas de Deus”. Cacetada! Esse Robin Hood
deve estar variando das ideias. Ele possuía um Nike oito molas zerado e uma
camisa do Bayern de Munique oficial. Bicho, eu uso o mesmo tênis desde a
faculdade, a única roupa importada que eu tenho, é uma camisa do Star Wars que
comprei no Wallmart nos EUA quando tive a oportunidade de trabalhar lá e me
custou 7 dólares e noventa e nove cents (na época o dólar ainda estava abaixo
dos três reais)! Mas mesmo assim para a comunidade, eles se tornam Robin Hoods.
Estudei
quase toda a vida em colégios públicos, minha mãe foi obrigada a me matricular
em um colégio particular na sétima série por eu estar sofrendo ameaças na
escola. Era coisa a toa, mas o tal garoto que me ameaçava queria que eu fizesse
todas as lições dele, as provas e os trabalhos (inclusive os da dependência do
ano anterior) e se não fizesse eu ia ganhar uns belos tabefes. Ele era primo
dos caras mais perigosos da escola e da favela próxima, e por isso um dos mais
populares da minha idade. Escondi enquanto pude a situação dos meus pais, mas
um dia o tal Robin Hood ligou para minha casa e falou com minha mãe a respeito
da coisa, exigindo os deveres dele. Era fim de semana e eu queria brincar e por
isso resolvi tirar “folga” das minhas atribuições extras, ele não achou a menor
graça e tratou logo de cobrar à minha mãe os deveres dele. Acabou que tive que
mudar de escola.
Essa
época era engraçada. Na escola pública você encontra de tudo. Pequenos marginais,
pessoas com dinheiro, mas que os pais já desistiram de pagar colégio, gente
esforçada, gente realmente inteligente... E essa mistura em geral trás um
ambiente altamente segregado. Os poderosos, em geral, são os que são conhecidos
do pessoal do tráfico de drogas. Seria o equivalente aos esportistas nos filmes
high school de sessão da tarde. Esses
caras eram admirados, de verdade. É quem acha que o certo é roubar os playboys que estudam nos colégios
particulares, afinal eles são ricos, todo mundo tem que ser igual, por que
alguns podem ter e outros não?
Essa
é a merda da mentalidade que se forma desde a escola. Se você tem e eu não, vou
tirar de você porque não é justo. Antes sua mãe chorando que a minha. Passei
isso diversas vezes. Desde lanches roubados até material escolar, uma hora você
acaba passando para o outro lado, começa achar injusto os caras que tem mais
que você também, começa a se tornar popular, ser admirado, logo você se tornou
aquilo que mais odiou. Essa é a maldita síndrome de Robin Hood invertida, vou
tirar dos ricos para dar para mim. Começa a achar que a sociedade te deve
alguma coisa, um vitimismo que só é usado para justificar seus atos, adora ser
visto como uma vítima, porém odeia ser vítima, não tolera ser subjugado, não,
não, isso é para os fracos. Esses Robin Hoods acreditam que são vítimas eternas
das sociedades, não tiveram oportunidades, são produtos do meio, tudo isso para
justificar o ato de tirar de alguém e dar para outro (mesmo que seja ele
mesmo), afinal alguns merecem (eu e meus amigos) outros não.
Se
engana quem acha que isso só acontece na escola pública. Isso é em todo lugar,
essa mentalidade de merda, essa legião da má vontade brasileira. Chefes que
beneficiam seus “camaradas”, projetos culturais apoiados pelo governo, bolsa
isso e aquilo só para quem é “da galera”, benefícios diversos para o “grupo de
amigos”. Afinal de contas, “Aos amigos favores, aos inimigos a lei”. Essa coisa invertida me deixa louco. Vale
tudo para se conseguir o que deseja. Olha os governos aí que não deixam mentir.
Lula disse que Dilma “pedalou” para dar o bolsa família, olha, temos uma Robana
Hood. Sinceramente eu torço para que as pessoas olhem seus caminhos tortuosos e
os consertem, porque tão pouco matar adiantaria alguma coisa, mortos não
convertidos se tornam mártires (já dizia George Orwell), Robin Hoods executados
pela polícia logo viram heróis e só servem de inspiração aos aspirantes (vide o
que está acontecendo no Brasil).
A verdade é que essa mentalidade
retrógrada, marginalizada e enraizada de Robin Hood só serve para justificar
qualquer ato, em nome de uma dificuldade passada vale tudo. É fácil você
explicar porque um pobre roubou ou matou, mas é difícil explicar os milhares e
milhares de pobres que seguiram os caminhos da justiça e da legalidade. Juro,
isso tem que acabar, não será justificando atos que se mudará um pensamento,
uma mentalidade, o que muda o ser humano é a compreensão, compreensão do seu
derredor, do seu mundo. Mudaram as escolas, as matérias para a realidade dos
que entram, mudando o ensino pela pessoa, quando na verdade a pessoa devia ser
mudada pelo ensino. Se um cão caga sua sala, você não deve tornar a sala seu
lugar de evacuação para dizer aos quatro ventos que tem um cão educado à cagar
na sala, e sim discipliná-lo até que ele aprenda a cagar no quintal, ora bolas.
O erro do nosso país foi ensinar o moral invertido da história de Robin Hood,
criando uma síndrome incurável da vítimas opressoras que acham que tudo se
justifica para que não precisem mudar e refazer seus caminhos. É como querer
mudar toda matemática para provar um teorema, ou toda física para provar uma
teoria.
Enquanto não se entender que o
ser humano precisa encarar seus demônios internos, mudar seus caminhos,
aprender com seus erros e acima de tudo, ser admirado por fazer um caminho
correto, recompensado por fazer o certo, nunca o Brasil deixará de ser um
celeiro de Robin Hoods.
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