segunda-feira, 1 de maio de 2017

Síndrome de Robin Hood

           





           Robin Hood é uma figura que muitos acreditam ter realmente existido. Diversas são as versões de suas façanhas, porém a mensagem central é a mesma, um herói que rouba dos ricos para dar aos pobres, se tornando um nobre por isso. Esse comportamento é tão admirável que creio que Robin Hood deixou de ser apenas um personagem com uma história marcante, para se tornar um arquétipo de anti-herói. Lindo, não? Seria, se não passasse de uma história linear onde só existem duas correntes, justiça e injustiça. Esse preto no branco que só é totalmente palpável em romances.
Recentemente minha esposa e minha irmã foram sequestradas, extorquidas, feitas reféns e ainda sofreram assalto em casa de meus pais. Não quero entrar em detalhes do ocorrido, mas posso dizer que é uma coisa terrível, uma sensação de impotência, raiva e descrédito na sociedade. A gente tenta dar continuidade à vida, mas a coisa perde o sabor. Graças ao bom Deus, elas saíram ilesas da situação, porém um dos homens fugiu (e o outro é menor e logo estará de volta às ruas, espero eu que mude seus caminhos, sem demagogia), e isso nos causou muita insegurança, pois o tal homem não foi identificado pela polícia.
                Tentaram localizá-lo na suposta comunidade que ele morava, mas ninguém nunca delataria, ele simplesmente fugiu, sumiu, desapareceu. Aí que entra a tal síndrome do Robin Hood, pois as pessoas acreditam que não aconteceu nada demais, afinal os homens eram pobres e mereciam ter as mesmas coisas que os “ricos”. A ironia entra quando se confronta a realidade da minha vida e da minha esposa. Temos um Uno duas portas sem ar nem direção, sério! Ela não trabalha, pois precisou largar o emprego para cuidar do nosso filho que teve um problema de saúde. Moro com minha sogra, e por melhor que ela seja, droga eu moro com minha sogra, só com essa frase eu não precisava dizer mais nada, mesmo que ela fosse a madre Teresa (e ela não é), aposto que a frase que ela mais usaria comigo seria: “A dor tem a capacidade de aproximar às almas de Deus”. Cacetada! Esse Robin Hood deve estar variando das ideias. Ele possuía um Nike oito molas zerado e uma camisa do Bayern de Munique oficial. Bicho, eu uso o mesmo tênis desde a faculdade, a única roupa importada que eu tenho, é uma camisa do Star Wars que comprei no Wallmart nos EUA quando tive a oportunidade de trabalhar lá e me custou 7 dólares e noventa e nove cents (na época o dólar ainda estava abaixo dos três reais)! Mas mesmo assim para a comunidade, eles se tornam Robin Hoods.
                Estudei quase toda a vida em colégios públicos, minha mãe foi obrigada a me matricular em um colégio particular na sétima série por eu estar sofrendo ameaças na escola. Era coisa a toa, mas o tal garoto que me ameaçava queria que eu fizesse todas as lições dele, as provas e os trabalhos (inclusive os da dependência do ano anterior) e se não fizesse eu ia ganhar uns belos tabefes. Ele era primo dos caras mais perigosos da escola e da favela próxima, e por isso um dos mais populares da minha idade. Escondi enquanto pude a situação dos meus pais, mas um dia o tal Robin Hood ligou para minha casa e falou com minha mãe a respeito da coisa, exigindo os deveres dele. Era fim de semana e eu queria brincar e por isso resolvi tirar “folga” das minhas atribuições extras, ele não achou a menor graça e tratou logo de cobrar à minha mãe os deveres dele. Acabou que tive que mudar de escola.
                Essa época era engraçada. Na escola pública você encontra de tudo. Pequenos marginais, pessoas com dinheiro, mas que os pais já desistiram de pagar colégio, gente esforçada, gente realmente inteligente... E essa mistura em geral trás um ambiente altamente segregado. Os poderosos, em geral, são os que são conhecidos do pessoal do tráfico de drogas. Seria o equivalente aos esportistas nos filmes high school de sessão da tarde. Esses caras eram admirados, de verdade. É quem acha que o certo é roubar os playboys que estudam nos colégios particulares, afinal eles são ricos, todo mundo tem que ser igual, por que alguns podem ter e outros não?
                Essa é a merda da mentalidade que se forma desde a escola. Se você tem e eu não, vou tirar de você porque não é justo. Antes sua mãe chorando que a minha. Passei isso diversas vezes. Desde lanches roubados até material escolar, uma hora você acaba passando para o outro lado, começa achar injusto os caras que tem mais que você também, começa a se tornar popular, ser admirado, logo você se tornou aquilo que mais odiou. Essa é a maldita síndrome de Robin Hood invertida, vou tirar dos ricos para dar para mim. Começa a achar que a sociedade te deve alguma coisa, um vitimismo que só é usado para justificar seus atos, adora ser visto como uma vítima, porém odeia ser vítima, não tolera ser subjugado, não, não, isso é para os fracos. Esses Robin Hoods acreditam que são vítimas eternas das sociedades, não tiveram oportunidades, são produtos do meio, tudo isso para justificar o ato de tirar de alguém e dar para outro (mesmo que seja ele mesmo), afinal alguns merecem (eu e meus amigos) outros não.
                Se engana quem acha que isso só acontece na escola pública. Isso é em todo lugar, essa mentalidade de merda, essa legião da má vontade brasileira. Chefes que beneficiam seus “camaradas”, projetos culturais apoiados pelo governo, bolsa isso e aquilo só para quem é “da galera”, benefícios diversos para o “grupo de amigos”. Afinal de contas, “Aos amigos favores, aos inimigos a lei”.  Essa coisa invertida me deixa louco. Vale tudo para se conseguir o que deseja. Olha os governos aí que não deixam mentir. Lula disse que Dilma “pedalou” para dar o bolsa família, olha, temos uma Robana Hood. Sinceramente eu torço para que as pessoas olhem seus caminhos tortuosos e os consertem, porque tão pouco matar adiantaria alguma coisa, mortos não convertidos se tornam mártires (já dizia George Orwell), Robin Hoods executados pela polícia logo viram heróis e só servem de inspiração aos aspirantes (vide o que está acontecendo no Brasil).
A verdade é que essa mentalidade retrógrada, marginalizada e enraizada de Robin Hood só serve para justificar qualquer ato, em nome de uma dificuldade passada vale tudo. É fácil você explicar porque um pobre roubou ou matou, mas é difícil explicar os milhares e milhares de pobres que seguiram os caminhos da justiça e da legalidade. Juro, isso tem que acabar, não será justificando atos que se mudará um pensamento, uma mentalidade, o que muda o ser humano é a compreensão, compreensão do seu derredor, do seu mundo. Mudaram as escolas, as matérias para a realidade dos que entram, mudando o ensino pela pessoa, quando na verdade a pessoa devia ser mudada pelo ensino. Se um cão caga sua sala, você não deve tornar a sala seu lugar de evacuação para dizer aos quatro ventos que tem um cão educado à cagar na sala, e sim discipliná-lo até que ele aprenda a cagar no quintal, ora bolas. O erro do nosso país foi ensinar o moral invertido da história de Robin Hood, criando uma síndrome incurável da vítimas opressoras que acham que tudo se justifica para que não precisem mudar e refazer seus caminhos. É como querer mudar toda matemática para provar um teorema, ou toda física para provar uma teoria.

                Enquanto não se entender que o ser humano precisa encarar seus demônios internos, mudar seus caminhos, aprender com seus erros e acima de tudo, ser admirado por fazer um caminho correto, recompensado por fazer o certo, nunca o Brasil deixará de ser um celeiro de Robin Hoods. 

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