
Por que escrever? Afinal de contas eu
sou um engenheiro. Um executor das ciências exatas, um interprete de
números, um solucionador de equações, um artista dos teoremas, um escultor de
cálculo diferencial integral, um pintor de gráficos e geometria analítica, um
dançarino dos sólidos de revolução, um historiador da álgebra linear, um
jornalista dos transfinitos...
Imagino
que boa parte dos escritores têm uma certa incerteza ou até mesmo uma pequena
desconfiança com o "pessoal" das exatas. Pudera, engenheiros,
físicos, químicos e matemáticos são conhecidos por sua frieza, seu
comportamento metódico, seu raciocínio lógico e por sua "quase"
ausência de sentimentos. Claro que isso não é totalmente verdade, e nem
mentira. Muitas vezes o profissional de exatas tende a ir direto ao ponto. São
bons em escrever manuais, "Acople a roldana A no contra pino B passando pelo
moitão C até que a contra-trava D esteja totalmente fixada". Um poeta
provavelmente acharia isso maçante até quase a morte, mas deve-se concordar
que, caso ele fosse o redator do texto, seria algo no mínimo cômico "A
roldana A desfalecia em solidão, parte dela se foi, deixando um imenso vazio...
Oh contra pino, que fostes fazer tu com o moitão? Não devíeis passar primeiro
por mim? E você contra-trava? Por que andas tão frouxa e sem firmamento? Acaso
tu também perdeste seu igual?"
Creio
que a objetividade das exatas não agrada o público mais exigente. A literatura
do tipo "se B igual não A, então A ou B, tautologia" não dá muito
certo com os leitores. Claro que não! Isso é chato. Ninguém quer ler um livro
onde o escritor diz: – Olá? – Disse a mulher assustada.
Nenhum leitor quer que você diga a ele o que está acontecendo, ele quer sentir,
quer experimentar o personagem. Na engenharia, por outro lado, não se tem lugar
para duplas interpretações. Tanto isso acontece, que na programação e em
lógicas programáveis existe o que chamamos de redundância. Trata-se
de deixar o que você deseja sempre funcionando com repetições desnecessárias
(mas usuais em caso de falhas) para que o sistema esteja sempre alimentado e
funcionando.
Todavia,
redundância, tão apreciada nas ciências exatas, é totalmente repulsivo na
literatura. Por essas (e diversas outras) questões, engenharia e literatura
parecem tão distantes. Parecem, mas não são. Quando entrei na faculdade de
engenharia um professor me disse "Aqui vocês aprenderão a desenvolver
soluções", ser engenheiro é buscar soluções práticas. Tento aplicar isso
no que escrevo, mas peco no meu "cacoete" de engenheiro, o velho
"Se A então B". Posso desenvolver tramas bem armadas, soluções
lógicas, enriquecer a história com tecnologias que dão realismo ao
desenvolvimento, mas me falta, talvez, uma "humanização" do
personagem.
Por
isso escrevo. Escrevo para que eu não me transforme em máquina. Escrevo para
que eu não seja totalmente moldado, escrevo para me entender, entender os
outros, observar mais e ouvir mais. Escrevo porque a cada personagem que se
torna tão verossímil para mim a ponto de se tornar real, vejo que meu lado
numérico, está mais humano. A engenharia é um curso espetacular, mas de alguma
forma ela mata você por dentro. Há pouco lugar para sentimento e muito lugar
para raciocínio. Ao sair da faculdade me deparei com um trabalho que também
mata aos poucos (Falarei disso em outra oportunidade), e então lembrei que um
dia eu também quis ser um artista, lembrei que um dia, para mim, números eram
só números e palavras e sentimentos eram tudo o que eu tinha.
Então,
escrevo. Escrevo para me tornar humano de novo, escrevo porque acho que a
lógica, a exatidão e o desenvolvimento de soluções da engenharia têm muito a
oferecer a literatura, contudo, acima de todas essas coisas, escrevo para mim,
escrevo para ser feliz.
Parabéns pela iniciativa. Muito legal! Gostei da escrita, da maneira que brincou vom a matemática e com as palavras. Serei sua seguidora com o maior prazer. #matemática #palavras escritas
ResponderExcluirOlá, Obrigado de verdade. Números e letras têm tudo a ver, basta observar os teoremas, as equações e fórmulas hehehe.
ExcluirParabéns. Amei a forma como trabalhou as palavras. Lembrei do filme Donald no País dá Matemagica, onde podemos perceber a perfeição de Deus.
ResponderExcluirEstá sensibilidade é a chave dos grandes escritores.
Comentário muito incentivador, sério. Obrigado de verdade. Adoro esses curtas da Disney também, gostava da série do pateta que imitava um documentário sobre diversos temas do jeito cômico dele hahahaha. Obrigado Antonieta.
ExcluirAmei!!! Também sou uma Engenheira que sente falta da literatura e de mais sensibilidade nas soluções. Excelente idéia!
ResponderExcluirVerdade, quando saímos da faculdade nos sentimos como pequeninas máquinas de calcular movidos a água e comida, falta esse "tato", essa sensibilidade que você citou, porém a praticidade das soluções e o raciocínio lógico acabam alavancando muito nossa vida. Obrigado pelas palavras e incentivo.
Excluir