segunda-feira, 13 de março de 2017

Presente Para Namorada



        No dia dos namorados é mais que essencial fazer alguma coisa especial com o(a) Parceiro(a). Geralmente é quando os homens e mulheres recebem a inevitável “facada” financeira. Minha esposa diz que eu não sei dar presente (e essa constatação vem desde os tempos de namoro), entretanto acredito que estou melhorando. Segundo ela, eu dou presentes que eu gostaria de receber. Não seria essa a forma mais pura de amor? Dar o que você gostaria de receber? Não para minha esposa (na época, namorada) e eu não tiro as razões dela.
            A história que vou contar é verídica, e foi quando eu percebi que devia mudar meus hábitos em dar presentes. Sabe como é, a praticidade é um “defeito” das exatas e dos homens. A gente acaba dando presentes usuais, eu gosto de receber presentes que me tem alguma utilidade e caio no erro de achar que todos são iguais. Mas também acredito que (poucas vezes) minha esposa também já me deu presentes que ela gostaria de ganhar, com excessos de romantismo e criatividade, contudo pouco usuais.
            A despeito disso, eu não entendia que o erro era meu, que dar presentes que eu queria receber não era a melhor maneira de demonstrar carinho. Demorei a perceber que isso não funcionava. Confesso que minha esposa precisou ser direta para me fazer entender. Sempre que eu dava um presente, ela sorria me abraçava e agradecia, por isso sempre achei que eu estava fazendo algo ótimo, e que meu jeito de abordar essa coisa do agrado estava perfeita.
            Foi então que em certo aniversário de namoro (se me lembro bem), lá fui eu comprar o presente. Minha esposa costumava acertar com eles, principalmente me dando diversos livros do Stephen King (qualquer dia falo dele) que eu adoro. Então, eu acreditava que ganhar livros era ótimo, já minha esposa não era tão aficionada assim neles. Lá estava eu sendo “magnetizado” para uma livraria enquanto percorria despretensiosamente o centro comercial.
            Olhei os livros, dei uma vasculhada e até cogitei dar um livro do “Stevie” para ela, mas ela não gostava das histórias dele. Então, meus olhos fixaram-se em um livro Uma Mente Brilhante de Sylvia Nasar. Para quem viu o filme, aquilo era um achado e tanto. Eu havia assistido a película, achava a abordagem do matemático John Nash incrível, além de ser uma lição de vida e superação. John Nash foi muito conhecido com seus trabalhos sobre teoria dos jogos, além de ser ganhador do Nobel de economia. Por isso, assim que avistei sua biografia quis logo compra-la. Que presente seria melhor que esse? Minha namorada iria adorar, eu tinha certeza.
            Mas não para por ai, bom namorado como eu era, já pensei lá na frente, queria dar o kit completo da felicidade. Ela havia acabado de gastar 4 meses de salário em um laptop, era o novo xodó dela. Por isso pensei “Ela precisa de uma caixinha de som para ele e um mouse”. Logo, completei o presente perfeito, a biografia do John Nash, uma caixinha de som para computador e um mouse rosa (olha como sou romântico).
            Quando chegou o dia, saquei da minha inseparável mochila o livro. Dei com toda a felicidade do mundo aquele manuscrito à minha namorada (hoje minha esposa). Ela esboçou, notoriamente, um sorriso totalmente forçado – sério – o esforço que ela fazia para sorrir com o presente devia estar fazendo doer seus músculos faciais. “Qual é o problema?” pensei. Não me dei por vencido, olhei para ela e disse “Mas não é só isso, tem mais.” Ela soltou um sorriso aliviado, eu juro. Soltou o ar dos pulmões piscando longamente os olhos e em seguida uma risada descontraída.
            Então eu apresentei o restante do presente. Coitada, ela não conseguiu mais disfarçar, o alívio que sentiu poucos segundos antes se esvaiu por completo. “É esse o presente?” perguntou em voz trôpega. “Sim! Gostou?” – “Ai amor...” Foi a resposta dela. A menina estava sem vida. Parecia que havia acabado de correr uma maratona e ficado em último lugar. Sua feição era cansada e frustrada.
            Eu não conseguia entender qual era o problema. Um presente perfeito desses. Um livro maravilhoso, uma caixinha de som para ouvir os documentários na internet e um mouse rosa (olha que mimo). Qual era o problema? “Não gostou do livro?” Arrisquei. Ela apenas respondeu que não era “o estilo de leitura dela”. “Tudo bem. Eu fico com ele. Sem problemas. Parece um livro ótimo”, essa foi minha resposta, problema resolvido. As exatas não são o máximo? Se ela não quer eu quero. Simples.
            Não, não é tão simples. Eu juro que não entendi a frustração dela com o presente (e até hoje eu acho que o livro foi um presente excelente), mas não era isso que ela esperava, e levou um tempo até eu descobrir. Levou exatamente o tempo até que ela me contasse. Imagino que se você for mulher, ou até um homem um pouquinho de nada sensível, já deve ter entendido qual foi o problema do presente, juro que não entendi até que ela foi clara comigo. Ela simplesmente esperava um presente que a fizesse se lembrar da gente, algo que a fizesse se sentir amada. Uma flor tirada da rua seria melhor, segundo ela.

            Para mim não fazia sentido, todavia entendi. Entendi que presentes são para fazer as pessoas se sentirem especiais, amadas e lembradas de uma forma especial. Entendi que cada data para minha esposa tinha uma conotação de presente diferente (para mim qualquer dia de presente é presente, tanto faz), cada situação fazia diferença na hora de escolher o que dar, ou fazer. Entendi com ela que presentes nem sempre são comprados, e mais importante, que um presente serve para fazer as pessoas se lembrarem de você através de algo que as faça feliz.

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